sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cidade, o cinzeiro de nossas vidas

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
É aquela velha história. Criam uma Lei Antifumo, torram uma grana em publicidade, contratam fiscais, armam todo o circo, mas o que não dá voto, visibilidade, fica de lado. Afinal de contas, numa cidade onde a rua foi substituída pelo shopping center, quem vai perceber a falta de lixeiras nas calçadas? Pois desde que a tal lei que proíbe o fumo em locais fechados entrou em vigor, a quantidade de bitucas jogadas nas ruas aumentou e muito. Se não bastasse a sujeira, toda aquela gente que frequentava os "fumódromos" dos prédios agora cospe fumaça bem na nossa cara, no meio da rua. Não tem um dia sequer que não tomo uma baforada ao ar livre. 
Não concordo com essa falsa conscientização que os maços de cigarro estampam na embalagem, com alertas sobre doenças e fotos de gente agonizando, brochando... Uma vez, na fila do caixa da padaria, vi um senhor resmungando ao pedir um maço de cigarro. "Troca esse maço aqui! No lugar da impotência sexual, dá o do ataque cardíaco, por favor". É claro que esse senhor fez piada da sua desgraça (pelo menos quero acreditar nisso), mas o fato é que colocar a culpa no consumidor é sempre mais fácil. O sujeito fuma desde os 13 anos e agora, com 60, demanda o serviço de saúde pública para tratar de um câncer no pulmão. Culpa do sujeito? Quem mandou fumar desde cedo, não atentar para os apelos do Ministério da Saúde, né? Pois é justamente esse o discurso do Estado e da sociedade para um grave problema de saúde pública que, infelizmente, não se restringe ao cigarro. Não quero em absoluto isentar as pessoas de culpa pelas suas escolhas. A questão é não isentar o Estado, que faz de conta que cuida do problema torrando grana com esse tipo de lei inócua ao invés de investir no bom senso (leia-se educação).
Disse tudo isso para voltar às bitucas jogadas na rua. A falta de lixeiras não é somente um mero descaso da Prefeitura ou falta de bom senso de quem joga lixo no chão. Trata-se de pensar no espaço público como tal. E isso não há lei que ensine a fazer. É hipócrita o discurso que referenda a Lei Antifumo como um instrumento de melhoria da saúde pública, fazendo as pessoas vigiarem umas às outras, ao passo que faltam políticas elementares de cuidado consigo mesmo e com o lugar em que vivemos. E não demora muito para os maços de cigarro ilustrarem uma rua alagada, com os dizeres: "as bitucas jogadas no chão podem entupir boeiros e causar enchentes". Tudo bem, então, se não houver lixeiras. Como está tudo bem também com gente fumando e que não irá encontrar hospitais para remediar a sua desgraça.

2 comentários:

Maravilha - A Doida... disse...

infelizmente não é somente problema da cidade de São paulo, aqui em Luanda, nem Lei antifumo tem... saiu uma tipo há milénios atrás... mas perguntando para as pessoas se ouviram falar ou conhecem a lei... e falo mesmo dos fumantes, a resposta será um retumbante NÃO! Mas ninguém faz nada... ou fingem que fazem.

Me irrita muito quando politicas hipocritas sao postas na ordem do dia, sendo que ninguém as cumpre... e quem realmente se importa com tais leis, são os não fumantes, que têm que receber uma bafada de nicotina todo dia... e várias vezes ao dia!

Unknown disse...

Aqui temos cartazes bem gigantescos que apresentam uma marca de cigarro e em baixo escrito: "FUMAR PREJUDICA GRAVEMENTE A SAÚDE!"

Eu morro de rir cada vez que passo pela Avenida Hoji ya Henda, pelos lados do "Zé Pirão" e olho aquilo la. O pior é q a midia so se lembra disso quando chega o tal dia contra o tabaco e fazem palestras, Workshops e gastam muito em spots publicitários... mas as ruas cheias de beatas de cigarros, muitos ainda por se apagar. E lixo... hahaha Nessa altura das festas entao, a cidade tá uma lixeira so... e as chuvas que nao param...

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