segunda-feira, 5 de abril de 2010

Carro abandonado

segunda-feira, 5 de abril de 2010
As estações do ano vem e vão, os guapuruvus florescem e colorem a rua com flores amarelas e o velho Santana  permanece ali, estagnado, sujeito às intempéries. Nas estiagens, os vidros empoeirados estampam desde declarações de amor a desabafos enfurecidos. Faz algumas semanas que um dos faróis dianteiros aparaceu quebrado. Fora esta pobre rotina, nada aconteceu com o carro desde que moro nessa rua, há cerca de quatro anos. Jamais vi alguém ligar o motor, aproximar-se sequer, tampouco reclamar do seu abandono. Afinal, há quantos anos esse carro está esquecido? Fiz essa pergunta a funcionários e moradores mais antigos e descobri que o velho Santana faz parte da paisagem há mais de dez anos! O curioso é que ele só é notado pelos moradores quando falta vaga para estacionar na rua, que costuma ser movimentada durante a semana. Fora esta situação, ninguém se incomoda com tamanho descaso. Nas manhãs durante as primaveras, com a rua pintada de amarelo, o andar apressado é o mesmo. Os guapuruvus, assim como o carro abandonado, estão no lugar da passagem, do desencontro. Tanto faz, portanto, se alguém decide se apropriar de um espaço público ou se os guapuruvus amanhecessem tombados. O lugar enquanto espaço da vida tem no velho Santana abandonado a sua lápide.

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