No post anterior (carros elétricos), comentei sobre os congestionamentos plugados na tomada: como que um modelo insustentável de mobilidade urbana utiliza o discurso ambientalista para legitimar o transporte motorizado individual nas grandes cidades. No momento em que estamos vivenciando os debates sobre a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no estado do Pará, considero pertinente insistir no tema desperdício de energia nas cidades.
Gerar energia para viabilizar um modelo caótico de mobilidade urbana, baseado no uso generalizado do automóvel privado, é tão irracional quanto insistir no uso do chuveiro elétrico no Brasil. Esse eletrodoméstico, presente em mais de 27 milhões de lares brasileiros, é responsável, em média, por 24% do consumo de energia no país. Somos um dos poucos - senão o único - país a usar esse equipamento de forma indiscriminada, mesmo com uma ampla oferta de luz solar, capaz de aquecer a água até mesmo por meio de tecnologias mais baratas, como as que a ONG Sociedade do Sol propõe.
As cidades poderiam ser grandes usinas virtuais de energia se deixassem de desperdiçar eletricidade com tecnologias e usos ineficientes. Como utilizar a oferta de energia que dispomos de maneira racional? Preocupar-se com essa questão envolve repensar as formas como construímos a cidade. E isso está presente desde o nosso banho quente até as nossas escolhas de transporte. No caso de Belo Monte, as comunidades ribeirinhas e os povos indígenas estão pagando a conta dos nossos prédios de vidro com ar condicionado, dos nossos banhos quentes, dos nossos futuros carros elétricos... (Foto: Alexandre Jorge)
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